Com grande admiração li hoje no Público as propostas da candidata Elisa Ferreira para a área da Cultura (à data que escrevo ainda nada se encontra disponível no seu site oficial). É importante não esquecer que a Cultura foi definida precisamente como a prioridade nº1 da sua candidatura. Esperava-se, por isso, um programa consistente e transversal, no qual a candidata se pronunciasse sobre o futuro dos equipamentos culturais da cidade, sobre a dinâmica criada em certas zonas hoje vistas como pólos de atracção artística, que definisse a relação da autarquia com todos os agente culturais da cidade (e não apenas com os mais conhecidos ou os mais reivindicativos), entre outros aspectos importantes.
Em vez, o que temos são algumas ideias soltas carentes de coerência programática, a maior parte resgatada do passado socialista da autarquia, umas que não passam de mero fogo-fátuo, outras que simplesmente extravasam a competência da Câmara.
Como exemplo desta indefinição de responsabilidades temos a "bandeira" da Cinemateca, uma promessa do actual Ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro, a quem a candidata diz ter "pressionado" para avançar com o projecto. Se o fez não foi publicamente, e se não o fez publicamente não o fez de forma transparente - desconhecemos, portanto, os termos em que tal foi feito. Um projecto tão importante para a cidade não pode ser cozinhado nos bastidores da política partidária. Porventura foi esta forma de fazer política que ditou a rebuscada proposta de uma Cinemateca tripartida.
Da mesma forma, a candidata continua a alimentar a recorrente confusão entre a responsabilidade da Câmara e a responsabilidade do Ministério da Cultura na gestão dos equipamentos culturais da cidade. Exigir que a Câmara interfira na gestão nos equipamentos propriedade do Ministério da Cultura, permitindo que o contrário aconteça com os equipamentos municipais, só prejudica a boa condução do trabalho desenvolvido pelos criadores das respectivas instituições. A Câmara deverá, isso sim, exigir do Ministério que atente às suas competências de forma a servir o melhor possível o público portuense.
Da mesma forma, a candidata continua a alimentar a recorrente confusão entre a responsabilidade da Câmara e a responsabilidade do Ministério da Cultura na gestão dos equipamentos culturais da cidade. Exigir que a Câmara interfira na gestão nos equipamentos propriedade do Ministério da Cultura, permitindo que o contrário aconteça com os equipamentos municipais, só prejudica a boa condução do trabalho desenvolvido pelos criadores das respectivas instituições. A Câmara deverá, isso sim, exigir do Ministério que atente às suas competências de forma a servir o melhor possível o público portuense.
As propostas mais "festivaleiras" são inócuas, já que nada de novo poderão trazer à actual dinâmica cultural da cidade. Aliás, irão, de certa forma, "concorrer" com as iniciativas privadas actualmente promovidas e dificultar o seu crescimento; seja pelo "abafamento" dos canais de divulgação cultural (os disponibilizados pela Câmara, os privados e os informais); seja pela carga burocrática que, por razões de funcionalidade, terá de ser imposta e que impedirá que essas iniciativas se realizem com relativa naturalidade, como hoje acontece; seja por mais que prováveis interferências na sua livre condução e promoção (o que tem sido habitualmente chamado pela candidata de "conjugação de interesses").
As propostas são tão específicas que, no âmbito do seu festival anual, Elisa Ferreira chega a propor que os restaurantes da Baixa "sirvam tripas à moda do Porto à borla", prova que este dirigismo obsessivo não se limita a meras linhas orientadoras.
Se queremos uma cidade cosmopolita e culturalmente dinâmica não podemos deixar que sejam os agentes políticos, os burocratas, os funcionários da Câmara a indicar ou, noutros termos, a "sugerir", quais as iniciativas que devem ou não ser promovidas.
É importante que esta decisão permaneça nas mãos dos criadores, promotores e investidores e que estes estejam dispostos a pôr a qualidade dos seus espectáculos/exposições/peças/etc à prova do juízo crítico dos seus públicos. A experiência tem mostrado, ao longo dos anos, que as pessoas recompensam sempre projectos de grande qualidade artística quando a sua concepção e divulgação são bem conseguidas. Só assim se garante uma oferta diversificada e de excelência que abranja todo o tipo de públicos e gostos.
Para isso, a Câmara terá de saber afectar eficientemente os recursos existentes (equipamentos culturais, por exemplo) e distribuí-los de forma justa, para que cem pessoas não impeçam mil outras de usufruir de um espectáculo.
Fica também o desafio ao músico Pedro Abrunhosa de brindar os portuenses com um concerto seu numa grande sala da cidade, já que, no mesmo artigo, o artista exprime saudades de voltar a fazê-lo. Perceberá ele, certamente, que qualquer músico é livre de dar um concerto, seja no Coliseu, na Casa da Música, no Teatro do Campo Alegre, etc., desde que assuma as responsabilidades (financeiras, operacionais, artísticas...) da actuação, como é exigido a qualquer outro artista. Nisto a Câmara não poderá ter a mais pequena interferência, quer concorde ou não com o conteúdo do espectáculo. Só não poderá, por uma questão de igualdade de tratamento, apoiar alguém preferencialmente, por mais popular e mediática que essa pessoa seja.
As propostas são tão específicas que, no âmbito do seu festival anual, Elisa Ferreira chega a propor que os restaurantes da Baixa "sirvam tripas à moda do Porto à borla", prova que este dirigismo obsessivo não se limita a meras linhas orientadoras.
Se queremos uma cidade cosmopolita e culturalmente dinâmica não podemos deixar que sejam os agentes políticos, os burocratas, os funcionários da Câmara a indicar ou, noutros termos, a "sugerir", quais as iniciativas que devem ou não ser promovidas.
É importante que esta decisão permaneça nas mãos dos criadores, promotores e investidores e que estes estejam dispostos a pôr a qualidade dos seus espectáculos/exposições/peças/etc à prova do juízo crítico dos seus públicos. A experiência tem mostrado, ao longo dos anos, que as pessoas recompensam sempre projectos de grande qualidade artística quando a sua concepção e divulgação são bem conseguidas. Só assim se garante uma oferta diversificada e de excelência que abranja todo o tipo de públicos e gostos.
Para isso, a Câmara terá de saber afectar eficientemente os recursos existentes (equipamentos culturais, por exemplo) e distribuí-los de forma justa, para que cem pessoas não impeçam mil outras de usufruir de um espectáculo.
Fica também o desafio ao músico Pedro Abrunhosa de brindar os portuenses com um concerto seu numa grande sala da cidade, já que, no mesmo artigo, o artista exprime saudades de voltar a fazê-lo. Perceberá ele, certamente, que qualquer músico é livre de dar um concerto, seja no Coliseu, na Casa da Música, no Teatro do Campo Alegre, etc., desde que assuma as responsabilidades (financeiras, operacionais, artísticas...) da actuação, como é exigido a qualquer outro artista. Nisto a Câmara não poderá ter a mais pequena interferência, quer concorde ou não com o conteúdo do espectáculo. Só não poderá, por uma questão de igualdade de tratamento, apoiar alguém preferencialmente, por mais popular e mediática que essa pessoa seja.
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